João Pedro,
Em alguns dias, fará quatro anos que nos conhecemos. Será que esperei esse aniversário para celebrar a nossa ruptura? Uma ruptura sempre e tanto anunciada, quanto adiada.
Eu te deixo essa noite, não voltarei para você.
Eu te deixo porque não temos nenhum projeto em comum, nem mesmo o projeto dessa ruptura. Sim, tivemos juntos algumas briguinhas, elas iam e voltavam, elas eram nossas estações. Céus claros, céus encobertos, brumas matinais, tempestades, tudo azul. Sempre com a mesma origem: baixas pressões no seu hemisfério, altas tensões no meu. E sem Equador, sem uma zona onde se reencontrar no mesmo clima.
Guardo de você imagens em branco e preto; o branco do desejo, o preto da ausência.
Branco, preto, preto e branco, em nosso caleidoscópio viraram rapidamente cinza.
Diga-me, meu senhor, o cinza é a cor da vida?
Eu não te deixo por ninguém. Eu poderia esperar para te trocar por alguém, mas essa transação seria indigna. Eu te deixo por mim.
Você não podia me amar. Logo, eu não podia te amar. Logo, nós não éramos amáveis. Aqui está, em resumo, a história de nosso breve encontro. Ele teria sido mais breve se eu não amasse a ilusão de amar.
N.
Carta de Nadine de Rothschild
(Tradução por Jorge Forbes)
1 comentários:
Que lindo!
Experimentei essa leitura ao som de Chasing Pavements de Adele.=)
Magnólia Ramos
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